Uma
mudança de comportamento ocorre agora, quando os dias de outono vão
cedendo seu espaço para o frio cortante do inverno. Todos os hábitos
saudáveis adquiridos desde o verão costumam ser abandonados em nome de
um eventual conforto: roupas pesadas, alimentação forte e uma sensação
de aquecimento bem quieto dentro de casa. Vale a pena passar a temporada
de temperatura mais baixa hibernando e ganhando peso?
Importante
saber que as mortes por enfarte do miocárdio aumentam 30% durante o
inverno, segundo estudos feitos em todo o mundo há pelo menos 50 anos.
Alimentação pesada, volta ao sedentarismo, uma simples gripe e a pouca
atenção à prevenção favorecem as doenças do miocárdio, especialmente se a
pessoa tem alguma predisposição e ainda não saiba.
E
a bateria de ataque ao coração só aumenta: pesquisa recente da
Universidade de Sydney revelou que o risco de ataque cardíaco é 17 vezes
maior após uma infecção respiratória. Pelo estudo, publicado no
Internal Medicine Journal, doenças como pneumonia, gripe ou bronquite
podem desencadear os problemas.
Os
dados mostram que o aumento do risco não ocorre necessariamente no
início dos sintomas da infecção respiratória, mas atinge picos nos
primeiros sete dias e vai reduzindo gradualmente. Os cientistas afirmam
que o perigo, no entanto, permanece mais alto durante um mês.
Foram
analisados 578 pacientes vítimas de ataque cardíaco por obstrução da
artéria coronária - e todos forneceram informações sobre a ocorrência de
doenças respiratórias, como dor de garganta, tosse, febre, dor no seio,
sintomas de gripe, e se ainda relataram um diagnóstico de pneumonia ou
bronquite nos dias que antecederam problema no coração. Entre os
pacientes analisados, 17% relataram sintomas de infecção sete dias antes
do ataque cardíaco, e 31% em até 31 dias.
O
estudo ajuda a explicar a existência de picos de ataques cardíacos
durante o inverno, quando essas infecções são mais comuns. Uma das
hipóteses para que a exposição a infartos seja maior após o registro de
infecções respiratórias é a ocorrência de alterações no fluxo sanguíneo.
Para
não se tornar alvo desses ataques, o melhor remédio é procurar um
médico, submeter-se aos exames e se precaver. Depois, seguir uma dieta
própria para o seu corpo e se preparar para uma vida longa e mais
saudável. Ainda que a sensação de frio pareça um calvário maior do que
você mereça.
Todas
essas doenças do miocárdio – AVC’s, hipertensão, ataque cardíaco,
aterosclerose e outras - resultam de um estilo de vida inapropriado.
Entre os principais fatores que ocasionam estas doenças estão má
alimentação, tabagismo, álcool, sedentarismo, obesidade, além do
estresse do dia-a-dia.
Mesmo
que a pessoa não fume, não beba e caminhe regularmente, deve ficar
atenta, pois viver sem estresse nas grandes cidades brasileiras é quase
um milagre. Sem poluição, impossível. Importante saber que qualquer
pessoa pode sofrer de pressão alta, essa doença silenciosa. Estima-se
que ¼ da população seja hipertensa.
E
nada na medicina substitui aquele verbo que todos conjugam, mas poucos o
praticam: prevenir. Não contém nenhuma contra-indicação. Mesmo que não
haja na família um parente com histórico de doença coronariana, ou mesmo
nenhum sintoma, ainda que se sinta forte como um touro ou esportista,
não deixe de estar sempre atento ao seu coração.
Também
é importante manter a visita ao médico em dia, realizar os exames,
monitorar os medicamentos de que faz uso, além de praticar exercícios
indicados e seguir uma alimentação saudável.
Estudos realizados em hospitais especializados paulistas mostraram
que, ao sentir frio, os receptores nervosos da pele estimulam a
liberação de adrenalina e noradrenalina, este um hormônio responsável
por contrair os vasos sanguíneos.
O
consequente estreitamento dos canais de circulação do sangue, embora
não tão significativo, pode gerar rupturas de placas de gordura no
interior das artérias coronárias, que irrigam o coração. Neste processo,
as proteínas e plaquetas do sangue são designadas para reverter o
quadro, e isto aumenta as chances de formar coágulos e provocar o
enfarte do miocárdio.
Todas
as pesquisas indicam que a pressão arterial costuma ser mais alta no
inverno, época na qual se consome alimentos mais calóricos, com abuso de
chocolates, fondues, sopas, feijoadas, massas, bolos, vinhos e etc., - a
lista dos prazeres é imensa. Pode ser uma necessidade para manter o
corpo aquecido. O problema é que isto vem junto com a preguiça de
praticar exercícios físicos para queimar calorias.
É
preciso mudar a história: a pessoa deve manter no inverno a frequência,
o volume e a intensidade da atividade física costumeira – de
preferência, de três a cinco vezes por semana, com duração de trinta
minutos a uma hora. Além de uma alimentação saudável; evitar excesso de
gordura e sal é fundamental.
Atenção
aos sintomas que se manifestam em quase todas as doenças do coração ou
que podem indicar algum tipo de comprometimento cardíaco:
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Falta de ar, seja no repouso ou no esforço; dor no peito, em virtude de
má circulação sanguínea no local; cansaço fácil; desmaio após atividade
física intensa; dor de cabeça; inchaço nos tornozelos.
Enfim, é importante se aquecer no inverno. Porém, o mais importante é passar por ele com boa saúde, sem correr nenhum risco.
(*)
Américo Tângari Junior é especialista em cardiologia pela Sociedade
Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira.
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