Mais da metade das crianças com Autismo apresentam problemas digestivos


São Paulo, 9 de junho de 2017– Um dos assuntos mais polêmicos quando se trata do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é a retirada do glúten e da caseína da alimentação dos pacientes com o objetivo de melhorar os sintomas de comportamento e digestivos. Até hoje, os estudos sobre o tema são controversos e dividem os especialistas. A prevalência de sintomas gástricos em crianças diagnosticadas com TEA é de 46 a 76% quando comparada a crianças com desenvolvimento normal. Os sintomas mais comuns são gases, refluxo, diarreia crônica, prisão de ventre e distensão abdominal.

“É importante entender que a dieta sem glúten e sem caseína (SGSC) não é indicada para todas as crianças com TEA. Os estudos são muito polêmicos e ainda não está claro porque para alguns pacientes a dieta funciona e para outros não. Muitas crianças apresentam comorbidades que ajudam a explicar a melhora dos sintomas. A doença celíaca é uma delas, assim como doenças intestinais inflamatórias”, comenta Dra. Karina Weinmann, neurologista infantil.
 
Teoria da sobrecarga do sistema opióide

Nos anos 80, pesquisas indicaram uma concentração alta de duas substâncias na urina de autistas: gluteomorfinas e casomorfinas, derivadas de glúten e caseína, respectivamente. Elas possuem uma estrutura química parecida com a dos opiáceos, que são produzidos pelo organismo (pelo sistema opioide) ou podem vir de forma externa, por meio do consumo de substâncias opiáceas, como medicamentos à base de morfina ou drogas derivadas do ópio. 

“Essas substâncias afetam o funcionamento do cérebro, levando a uma maior agitação e agressividade. Uma das teorias sobre os resultados da isenção de glúten e da caseína levar a melhora dos sintomas comportamentais é que o organismo de algumas crianças com o espetro autista não consegue quebrar a caseína e o glúten completamente. Com isso, a parte não digerida das proteínas ou as proteínas não digeridas passam da parede intestinal para a corrente sanguínea, sobrecarregando o sistema opióide. Quando isso acontece, há agravamentos dos problemas de comportamento, fala e habilidades sociais”, explica a médica.

O que dizem os pais
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, entrevistaram cerca de 400 pais de crianças com TEA e mostraram evidências de que a dieta pode melhorar os sintomas de hiperatividade, birras, problemas de contato visual e fala, e em alguns casos, os sintomas físicos, como menos alergias de pele e crises convulsivas.

“Nesse estudo, as crianças que apresentaram melhoras significativas foram aquelas que seguiram a dieta adequadamente por no mínimo seis meses e que já tinham histórico de alergia alimentar ou problemas digestivos, como prisão de ventre e diarreia. O que corrobora a necessidade de pesquisar comorbidades antes de prescrever uma dieta restritiva para todos os pacientes com TEA”, explica a neuropediatra.

Dieta é um desafio para a família
O glúten é uma proteína encontrada nos alimentos feitos com trigo, com pão, bolos, biscoitos, bolachas, etc. Já a caseína é encontrada no leite e nos derivados. Muitos produtos podem conter traços de ambas as proteínas devido aos processos industriais. Com isso, a dieta isenta de glúten e caseína pode ser um verdadeiro desafio para a família.

“O ideal é consultar o médico neurologista que acompanha a criança, que irá encaminhar para um nutricionista com experiência em TEA. A grande preocupação é que essas proteínas estão presentes em muitos alimentos e pode ser um verdadeiro desafio conseguir retirá-los totalmente da dieta. Outro ponto é que muitos alimentos são importantes para o crescimento e desenvolvimento e restringir seu consumo pode ser perigoso se não for acompanhado devidamente, com reposição de nutrientes por meio de suplementos alimentares”, afirma Dra. Karina.

“Precisamos ter cautela quando falamos de alimentação, principalmente de crianças que precisam de todos os nutrientes para se desenvolver. Cada caso deve ser avaliado individualmente. Para crianças que já apresentam alergias alimentares importantes e sofrem com os sintomas gastrointestinais, a dieta pode ser benéfica, desde que seguida corretamente e por tempo prolongado”, conclui a médica.


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