Por Prof. Dr. Mario
Louzã, médico psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg,
Alemanha, e Membro Filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira
de Psicanálise de São Paulo
Tudo na
vida são incertezas. Nossa única certeza é a morte. Desde pequenos, de algum
modo, aprendemos a conviver com a incerteza. Sabemos não dispor de todas as
informações possíveis, as quais nos dariam a certeza de algo; de algum modo, a
incerteza é administrada de modo a não nos paralisar. Se de um lado temos a
incerteza, de outro, temos o impulso de ir para frente, de arriscar, a partir
do nosso conhecimento, da situação e de algum tipo de avaliação da relação
impulso/incerteza.
Uma
‘necessidade’ (não necessariamente uma necessidade ‘concreta’) nos impulsiona.
Uma criança quer explorar o ambiente desconhecido, para isso precisa de algum
modo se locomover, esboça os primeiros passos, desequilibra-se, com certeza cai
algumas vezes, mas volta a se levantar e tenta novamente até adquirir
experiência suficiente para andar sem maiores dificuldades. Seu impulso para
explorar o ambiente é maior que a incerteza dos primeiros passos.
A
aquisição da experiência vem da obtenção de informações suficientes que
permitem avaliar de modo realista o grau de incerteza da ocasião. A cada
situação nova, quase que automaticamente fazemos uma comparação com nosso
arsenal de informações e experiências anteriores, e processamos a relação
impulso/certeza antes de ir adiante.
É
evidente que algumas incertezas pouco nos afetam, não nos dizem respeito ou
estão tão distantes que não comprometem nossa vida. Já outras incertezas estão
próximas, nos afetam diretamente ou estão dentro de nós mesmos (incertezas
quanto a decisões a tomar, e que muitas vezes definem nossa vida).
O que faz
com que as pessoas reajam de modo tão diferente diante de uma incerteza?
Estudos mostram que a ‘intolerância à incerteza’ é uma característica
individual que pode ser definida como uma reação inadequada ou desproporcional
a uma situação, vista como ameaçadora ou de difícil solução. Diante de uma
situação, as pessoas com alta intolerância à incerteza reagem antecipando essa
situação com stress exagerado e tendem a desenvolver transtornos de ansiedade,
como a ansiedade generalizada, fobias e o transtorno obsessivo compulsivo,
muitas vezes crônicos, com prejuízo importante na vida cotidiana.
Por ser
um ponto comum a vários transtornos de ansiedade, faz parte do tratamento dos
quadros ansiosos abordar este aspecto. Aprender a lidar com a incerteza depende
fundamentalmente de abordagens psicoterápicas para auxiliar o indivíduo a lidar
com a incerteza de modo mais satisfatório, visando a melhora de sua qualidade
de vida.
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