Até quando?
Beny Schmidt *
Dois
novos trabalhos vão mudando o nosso entendimento sobre as epidemias
causadas pelo Aedes aegypti. O primeiro, publicado no New England
Journal of Medicine, a mais conceituada revista científica do mundo,
mostra que algumas mães que tiveram bebês com microcefalia não foram
infectadas no primeiro trimestre da gravidez. Este trabalho aumenta o
nosso entendimento sobre a forte ligação entre o vírus da zika e a
microcefalia, mas ainda não nos possibilita colocá-lo como fator
etiológico.
O
segundo trabalho, que é sobre as infecções virais relacionadas à
chikungunya, retrata que pacientes picados pelo Aedes aegypti
permanecem, após a infeção, com dores articulares, ou seja, desenvolvem
uma artrite crônica, semelhante à artrite reumatoide.
Ambos
os trabalhos contêm uma mensagem importantíssima para a qual o governo
continua com os olhos vendados, que é a falta imperdoável de projetos
imediatos de saneamento básico para o país. Agora, estamos defronte a
uma possibilidade de doença crônica debilitante causada pela picada de
um inseto. Não podemos continuar gastando dinheiro público à toa,
hipocritamente, com exército, marinha, aeronáutica e drones.
Se
nada for feito sobre esgoto, coleta e tratamento de lixo, e água
potável, no ano que vem a situação será mais catastrófica ainda.
* Beny Schmidt é chefe
e fundador do Laboratório de Patologia Neuromuscular da Escola Paulista
de Medicina e professor adjunto de Patologia Cirúrgica da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp). Ele e sua equipe são responsáveis pelo
maior acervo de doenças musculares do mundo, com mais de doze mil
biópsias realizadas, e ajudou a localizar, dentro da célula muscular, a
proteína indispensável para o bom funcionamento do músculo esquelético -
a distrofina.
Beny
Schmidt possui larga experiência na área de medicina esportiva, na qual
já realizou consultorias para a liberação de jogadores no futebol
profissional e atletas olímpicos. Foi um dos criadores do primeiro
Centro Científico Esportivo do Brasil, atual Reffis, do São Paulo
Futebol Clube, e do CECAP (Centro Esportivo Clube Atlético Paulistano).
Foi homenageado pela Câmara Municipal de São Paulo com a entrega da Medalha Anchieta e do Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, como agradecimento por todos os seus feitos em prol da saúde. Seu pai, Benjamin José Schmidt, foi o responsável por introduzir no Brasil o teste do pezinho.
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