“Dependência química não é desvio de caráter” Psicóloga explica sobre o real sentido do termo e quais as medidas necessárias para entender o paciente

“Dependência química não é desvio de caráter”
Psicóloga explica sobre o real sentido do termo e quais as medidas necessárias para entender o paciente

Curitiba, 14/03/2016: Bêbado, drogado e viciado. Quem nunca ouviu estes termos sendo utilizados para julgar uma pessoa? O fato é que essas poderosas palavras são empregadas de maneira errada quando designadas para descrever um distúrbio ou problema de saúde.
O uso abusivo de substâncias como álcool e outras drogas deve ser retratado como “dependência química”, termo um tanto quanto recente desde a sua origem. Foi apenas em 1964 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) introduziu o termo "dependência" para substituir os termos "vício" e 'habituação'. Mais tarde, em 1967, o termo “alcoolismo” ingressou pela primeira vez no Código Internacional de Doenças (CID-8).
“Até então não se entendiam as dependências como uma doença, mas sim como um desvio de caráter, falta de personalidade ou de força de vontade. Muitas vezes os usuários eram chamados de bêbado, viciado, drogado entre tantos outros termos pejorativos”, explica a psicóloga da clínica curitibana Quinta do Sol, Marina Vidal Stabile.
A dependência, seja ela qual for, não se desenvolve por uma escolha, mesmo porque o dependente não tem controle sobre este desenvolvimento, já que o uso continuado de qualquer substância psicoativa provoca uma modificação no funcionamento cerebral. “O termo ‘dependência química’ pode ser usado em referência a dependência de múltiplas substâncias psicoativas ou com referência específica a determinado medicamento ou classe de drogas”, detalha.
Embora a doença da dependência seja aplicável a todas as classes de substâncias psicoativas, há diferenças entre os sintomas de dependência característicos de cada substância. Um dependente químico e/ou alcoólico tem um desejo incontrolável de consumir a droga, aumentando a quantidade do uso com o passar do tempo para se conseguir o mesm o efeito.
“Surgem sintomas de desconforto psíquicos e físicos quando ela interrompe ou diminui o uso, e, para diminuir este desconforto, ela continua usando a substância. Frequentemente a pessoa usa mais droga e por mais tempo do que pretendia. Pode haver uma tentativa ou o desejo de parar ou diminuir o uso, mas ainda sem sucesso”, pontua a psicóloga.
A mudança do comportamento dependente é uma caminhada carregada de conflitos, sendo essencial a utilização de todas as condições disponíveis para auxiliar o sujeito a se engajar num processo de recuperação. Apontar o dedo e estabelecer julgamentos não é saudável, por isso, procure ajudar pacientes e pessoas com estes perfis. “O engajamento e não acomodação dos familiares, a identificação preventiva, a busca de auxílio especializado e o acompanhamento de longo prazo são aliados da caminhada bem-sucedida”, finaliza Marina.
Números
De acordo com a OMS, o uso abusivo de álcool resulta em 2,5 milhões de mortes a cada ano, sendo que 320 mil jovens com idade entre 15 e 29 anos morrem de causas relacionadas ao álcool, resultando em 9% das mortes nessa faixa etária e, pelo menos, 15,3 milhões de pessoas têm transtornos por uso de substâncias psicoativas.
Estas e outras pesquisas mostram que o uso de substâncias psicoativas (especialmente cocaína, crack e drogas sintéticas) aumentou mais – proporcionalmente - no Brasil do que em outros países do mundo. O Brasil é o terceiro maior consumidor de estimulantes e o uso ilícito de drogas entre mulheres é aproximadamente um terço do uso entre homens.



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