|
Lavar demais as mãos, roer unhas, balançar na cadeira, arrumar a roupa pelas cores.
Até que ponto os hábitos podem se transformar em TOC?
São Paulo, 19 de julho –
Ao longo da vida acumulamos certos
comportamentos e gestos que podem ser
fruto das nossas experiências e personalidade. Entretanto, esses
trejeitos podem também ser sinais do Transtorno Obsessivo
Compulsivo (TOC) ou ainda de um tique.
Mas, afinal, como identificar se é apenas uma mania ou se é um distúrbio psiquiátrico?
Segundo Fernanda Queiroz, psicóloga, neuropsicóloga,
há várias diferenças entre simples hábitos cotidianos e os
comportamentos de quem tem o diagnóstico
do TOC ou de tique. “Os hábitos surgem como reações ou comportamentos
que criamos para aliviar a tensão, a ansiedade ou
simplesmente porque de alguma maneira nos
fazem bem. Nesta categoria podemos incluir mexer no cabelo, balançar os
pés, estalar os dedos, arrumar os óculos, organizar
nossas roupas por cores, etc. Essas manias
são voluntárias, portanto podemos controlá-las quando desejamos,”,
explica Fernanda.
“Já o tique ou o TOC merecem mais atenção.
O tique é um padrão de comportamento repetitivo e involuntário. Costuma
surgir na infância ou na adolescência e raramente na
idade adulta. Os tiques são movimentos
involuntários, rápidos, repetitivos e sem propósito. Quando realizados
oferecem uma sensação de alívio e não temos controle sobre
eles. Como exemplos podemos citar piscar
os olhos, mexer os ombros, morder os lábios, coçar a garganta, emitir
sons estranhos, atirar objetos, repetir certas palavras,
entre outros”, afirma a psicóloga.
Em geral, o tique está associado a
condições de ansiedade e estresse, assim como a mudanças repentinas na
rotina. Quando o tique não desaparece, é preciso investigar.
Ele pode estar ligado a diversas
condições, como Autismo, Deficiência Intelectual, como efeito colateral
de alguns medicamentos e à Síndrome de Tourette.
Quando pode ser TOC?
“O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é
caracterizado por pensamentos intrusivos (obsessivos) e/ou por
comportamentos ou pensamentos compulsivos e recorrentes. Em
geral, esses pensamentos ou ações surgem
para dar alívio às obsessões. Um bom exemplo é quando a pessoa acredita
que precisa lavar a mão pelo menos 10 vezes para evitar
se contaminar com alguma bactéria. Além
disso, essa pessoa pode evitar apertos de mão ou colocar a mão em
corrimãos ou outras superfícies públicas, o que chamamos de
comportamento de esquiva”, diz Fernanda.
“No TOC também é comum a presença de
pensamentos distorcidos, exagerados e supervalorizados. A pessoa só
consegue se livrar deles quando realiza seus rituais”, comenta a
psicóloga. Embora o tique seja diferente
do TOC, em cerca de 30% dos casos eles aparecem juntos, ou seja, a
pessoa acumula as duas condições. Além disso, mais da metade
dos pacientes diagnosticados com TOC tem
algum outro transtorno psiquiátrico, como depressão, ansiedade e fobias.
Quando procurar ajuda
É importante entender que todos temos
alguns rituais e pensamentos, mas isso não significa um diagnóstico. O
que vai diferenciar hábitos ou manias do TOC é a relevância
desses pensamentos e comportamentos na
vida cotidiana e o quanto interferem na vida funcional da pessoa. “Isso
quer dizer que só é TOC quando a presença dos
comportamentos e pensamentos é constante e
interfere no trabalho, nos estudos, na vida social, ou seja, no
funcionamento do indivíduo”, diz Fernanda.
O tratamento do TOC inclui medicamentos e
psicoterapia. Hoje, a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é eficaz em
70% dos pacientes, sendo o tratamento de primeira
escolha quando há predominância de rituais
e sintomas de intensidade leve a moderada.
|