Por Tatiana Leite
O ciúme é um sentimento que, em maior ou menor intensidade, todos nós já experimentamos um dia. Se por um lado, para muitos, o ciúme representa uma manifestação de amor, para outros ele também pode ser considerado um sentimento que produz angústia. De uma maneira ampla, podemos também considera-lo como uma manifestação normal das pessoas em relação às outras. Ou seja, assim como é comum sentir inveja, medo, luto, alegria, raiva e saudade. O ciúme faz parte das reações humanas.
Para provocar uma reflexão sobre o tema, gostaria de propor alguns questionamentos. Se esse sentimento é comum das relações humanas, por que os casais brigam em decorrência do ciúme? Por que se separam por causa dele?
Entender e responder essas perguntas é mais complexo do que se imagina. Nas relações contemporâneas, onde se busca a liberdade, independência, satisfação pessoal e individualidade, a ausência de ciúmes desponta como o novo ideal de amor. No entanto, no nosso conceito antigo de amor, temos elementos como: a promessa de fidelidade, total entrega do outro e submissão dos desejos. No momento em que esses dois mundos colidem, as regras se tornam contraditórias e impossíveis de serem gerenciadas.
Assim, o ciúme nasce quando sentimos que nosso parceiro não está conectado como gostaríamos. Esse sentimento de apreensão, relacionado a possibilidade eminente de sermos abandonados, rejeitados ou ainda traídos, faz com que o relacionamento pareça ameaçado pela entrada de um terceiro, um rival. Esse medo, real ou imaginário, é frequentemente alimentado pela insegurança de que irá aparecer outra pessoa mais atraente e interessante a qualquer momento.
As pessoas ciumentas apresentam-se nos relacionamentos de forma ambivalente, entre um misto de amor e desconfiança do seu parceiro. Elas tornam-se perturbadas e obcecadas na busca por descobrir a infidelidade. Não constatando a traição sofrem, colocando em duvida suas próprias percepções da realidade. É nesse momento que devemos avaliar alguns traços de personalidade comuns nas pessoas ciumentas, como a timidez e a baixa autoestima.
Essas características podem influenciar a maneira que o individuo ciumento enxerga determinados acontecimentos, criando em sua cabeça uma ameaça real de perder seu parceiro. Para ajudar essas pessoas e, consequentemente, resgatar um relacionamento desgastado, é importante trabalharmos a questão da autoestima e a valorização do eu. Pois, a pessoa que não consegue dar valor a si mesmo, desenvolve um sentimento forte de que é possível que ela seja traída e abandonada a qualquer momento. Em outras palavras, o ciumento começa a duvidar de si mesmo e como o ciúme reside na duvida, o paciente passa a alimentar outros sentimentos perigosos para a saúde. Entre eles; o medo constante, a insegurança, a raiva, desespero e, até mesmo, a depressão. Esse quadro de insegurança excessiva provoca um significativo prejuízo para o relacionamento amoroso, levando a inúmeras brigas, discussões e acusações. Elementos que desgastam a relação e que podem levar ao termino do relacionamento.
É claro que não podemos esquecer que, muitas vezes, o ciúme pode estar captando sinais de que a relação não está indo bem, ou seja, que está prestes a fracassar. Em alguns casos, quando não encontramos os traços de personalidade ligados a baixa autoestima e insegurança, o ciúme pode representar um sistema de defesa onde o parceiro realmente está descompromissado com a relação. Nesses casos, sempre avalio o ciúme nas relações como um sinal de alerta, ou seja, uma possibilidade de reflexão para recuperação do relacionamento, que pode estar esgotado.
Tatiana Leite é terapeuta de casal e família com especialização em Sexualidade Humana.
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