Saneamento básico, impostos melhores investidos para combater o Zika vírus defende médico Microcefalia: Paradoxos da medicina Beny Schmidt *

Microcefalia: Paradoxos da medicina
Beny Schmidt *

No momento da mais alta tecnologia, encontramos um processo profundo de desumanização a medicina. A literatura americana, sobretudo, acredita fielmente que poderá dispensar, no futuro, o próprio médico, pois tudo estará escrito e analisado no smartphone. Esquecem, eles, que a saúde é um estilo de vida e não se compra na farmácia, muito menos nos laboratórios.

Na microcefalia acontece o mesmo. Esquecem que as anomalias constitucionais são hereditárias, secundárias a cromossomopatias e/ou mutações. E que estas são praticamente inacessíveis ao meio ambiente. E quando o são, temos os natimortos.

Continuando nesse raciocínio, defrontamo-nos com a conduta tomada pelo governo brasileiro. Fabricar vacinas, realizar exames de laboratório e colocar o exercito na rua para matar mosquito são atitudes que ofendem a inteligência médica. Afinal de contas, não podemos fazer vacinas para todas as viroses e de que adianta gastar o dinheiro da saúde pública, por exemplo, na infecção por zika, se esta causa transtornos mínimos aos pacientes e não é, categoricamente, etiologia de microcefalia. Trata-se de um modismo, de uma falta de arrazoado científico mais profundo, pois a concomitância da má formação com a infecção viral não significa de maneira alguma que ela é causa etiológica.

O dinheiro da saúde publica, em primeiríssimo lugar, deveria ser investido no saneamento básico, no tratamento da água, do esgoto e do lixo, se o governo realmente quisesse combater os mosquitos e melhorar a saúde do povo brasileiro. Além disso, o aconselhamento genético deveria ser implantado massivamente no nosso país, pois pais consanguíneos têm altíssima probabilidade de gerar doenças hereditárias, tais quais a microcefalia.

* Beny Schmidt é chefe e fundador do Laboratório de Patologia Neuromuscular e professor adjunto de Patologia Cirúrgica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele e sua equipe são responsáveis pelo maior acervo de doenças musculares do mundo, com mais de doze mil biópsias realizadas, e ajudou a localizar, dentro da célula muscular, a proteína indispensável para o bom funcionamento do músculo esquelético - a distrofina.
Beny Schmidt possui larga experiência na área de medicina esportiva, na qual já realizou consultorias para a liberação de jogadores no futebol profissional e atletas olímpicos. Foi um dos criadores do primeiro Centro Científico Esportivo do Brasil, atual Reffis, do São Paulo Futebol Clube, e do CECAP (Centro Esportivo Clube Atlético Paulistano).
Foi homenageado pela Câmara Municipal de São Paulo com a entrega da Medalha Anchieta e do Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, como agradecimento por todos os seus feitos em prol da saúde.  Seu pai, Benjamin José Schmidt, foi o responsável por  introduzir no Brasil o teste do pezinho.

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